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Só se morre duas vezes
Bela escolha para o arranque oficial da 74ª edição do Festival de Cannes: "Annette", de Leos Carax, é uma experiência de cinema cujo lirismo se cruza com o artifício do teatro e a pulsão trágica da ópera.
7 Jul 2021 1:22
Todas as sinopses são enganadoras… mas o leitor fica avisado. Assim, "Annette", filme de Leos Carax que abriu oficialmente o 74º Festival de Cannes, conta a história de um amor grandioso vivido por dois seres de muitas singularidades: Henry, um profissional de stand-up de Los Angeles, e Ann, cantora lírica de fama mundial…
O certo é que estamos perante um filme musical. E, para mais, com canções dos velhinhos Sparks, sempre a oscilar entre a pop mais primitiva e uma energia rock que, estranhamente ou não, os aproxima da ópera. Aliás, o próprio Carax talvez não fique chocado se chamarmos ao seu filme um "musical operático". E no sentido mais depurado que a designação possa envolver. Ou seja: contaminado por um prematuro pressentimento de tragédia.
Henry e Ann têm uma filha, de seu nome Annette, evento que ainda mais acentua as sugestões trágicas. Porquê? Digamos apenas que Annette não é uma criança como as outras, parecendo funcionar mesmo como um sinal de aviso para as ilusões românticas dos pais: não há amor que não transporte um assombramento mortal. Ou ainda: antes de se morrer de morte natural, morre-se dentro do amor.
Enfim, Carax move-se nas suas paisagens de eleição, a ponto de, trinta anos depois, "Annette" ter qualquer coisa de reinvenção lírica de "Os Amantes da Ponte Nova" (1991). Com essa visceral componente formal que faz com que a verdade mais íntima do cinema se multiplique através do assumido artifício do teatro. Sem esquecer, claro, que nada disso poderia acontecer sem actores em estado de graça: Marion Cotillard, bien sûr, e o monumental Adam Driver naquela que é uma das composições mais arrojadas, e também mais perfeitas, da sua filmografia.
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