26 Out 2023
Na conferência de imprensa em Veneza, David Fincher começou por descrever o que mais o atraiu na personagem central da história. Trata-se de alguém que “para se diferenciar do que é um assassino em série, tem de criar um código para ele próprio(…) alguém que diz ter um plano, mas é forçado a improvisar”.
O ator Michael Fassbender interpreta este homem frio, solitário, metódico e focado, que fica exposto ao improviso, quando uma das suas missões falha. A resposta do assassino é violenta e sem hesitações.
Para David Fincher, este é o pormenor que faz a diferença: – “Acho que o filme não é sobre um assassino, mas sobre vingança (…) alguém que só faz o que faz porque é pago para isso. Ou seja, os corpos que vai deixando para trás, não cabem de forma alguma na sua forma de pensamento e no plano que traçou para ele.”
O filme é uma adaptação ao cinema de uma novela gráfica, pela mão de David Fincher que escreveu o argumento com Andrew Kevin Walker, cúmplice do realizador em “Se7en – Os Sete Pecados Mortais”.
Os dois voltam ao universo do crime, desta vez em torno do perfil de um assassino que vive na sombra e que tem tanto de sereno como de sombrio. Um personagem perfeito para um ator como Michael Fassbender, que apesar de ter poucos diálogos, tem de passar ao público sensações e pensamentos, enquanto narrador. Para David Fincher, o espaço entre o ouvimos e o que vemos, resume o homem desta história.
Michael Fassebender está de regresso ao cinema, depois de uma ausência de quatro anos, durante a qual se tornou piloto de automóveis.
Desempenha este homem que ganha dinheiro a matar, mas que parece e age como qualquer um de nós. “É o mal de forma mundana” explica David Fincher, dizendo em tom sarcástico, esperar que depois do filme, os espectadores possam ficar nervosos com a pessoa de trás na fila das compras.
“The Killer” é contado em capítulos, que se distribuem conforme os alvos a abater. Num deles, Fassbender cruza-se com alguém semelhante, num curto papel entregue à actriz Tilda Swinton. O filme é uma experiência com personagens que vivem à superfície, mas é também um exercício num género muito apreciado por quem gosta de contar histórias no cinema. David Fincher admite que as histórias de assassinos têm “uma linha dramática muito convincente e simples”, porque a tarefa que o protagonista tem nas mãos é identificável, dramática e de alto risco.
O assassino com quem nos podemos identificar, é afinal de contas um homem que tenta manter o seu plano e tenta gerir as suas prioridades num mundo apressado, virtual e global, do Google, da Amazon, ou do Airbnb.
O discurso do assassino é muitas vezes de sátira, acompanhado de uma banda sonora feita com canções dos The Smiths, que servem para revelar mais sobre o personagem, com uma mistura de sarcasmo e inteligência, que para o realizador é imagem de marca da banda britânica. A estas canções juntam-se os temas compostos pela dupla Trent Reznor e Atticus Ross dos Nine Inch Nails, criando um atmosfera tensa e sombria, mas sempre elegante e eficaz, como pode ser o cinema da David Fincher.