Jeremy Renner (à esquerda) em


joao lopes
17 Out 2014 1:33

A história que se conta em "Matem o Mensageiro" ("Kill the Messenger") é, no mínimo, inquietante.  Assim, nos anos 80, em tempos de administração Reagan, a CIA apoiou o tráfico de cocaína para os EUA, feito por elementos ligados à organização dos Contra, opositores, na Nicarágua, do governo sandinista — além do mais, tal estratégia contribuiu de forma decisiva para um aumento exponencial do consumo de "crack" na zona de Los Angeles.

Dirigido por Michael Cuesta, o filme escolhe como sua personagem central Gary Webb, precisamente o jornalista que desenvolveu tal investigação, publicando os seus relatos no jornal "San Jose Mercury News". Reeencontramos, assim, um dispositivo muito típico da chamada ficção liberal de Hollywood: tudo se joga entre a obstinação individual de alguém que quer fazer prevalecer o direito à informação e uma entidade institucional que, mais ou menos na sombra, tenta contrariar a exposição das suas manobras de bastidores.
As emoções do thriller nascem, aqui, não da "obrigação" de explorar uma acção meramente física (feita de explosões e muito ruído, à maneira mais banal de alguns filmes de "super-heróis"…), mas sim de uma carga realista que não menospreza o contexto histórico e psicológico em que tudo aconteceu — afinal de contas, a verdade dos factos é um labirinto que não se revela automaticamente, exigindo tenacidade e muito trabalho.
Quer isto dizer que a herança de títulos como "Os Homens do Presidente" (1976), de Alan J. Pakula, continua bem viva. E tanto mais quanto este é um cinema que, nascendo desse impulso, a um tempo moral e político, em direcção à verdade, nunca menospreza as singularidades das suas personagens, logo dos seus actores. E Jeremy Renner é brilhante na composição da figura de Gary Webb.

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