joao lopes
1 Nov 2014 19:02
Há filmes que, mesmo quando envolvem nomes a que reconhecemos os mais variados talentos, parecem nascer sob o signo de uma “mensagem” que reduz tudo o que neles se investe ao mais banal maniqueísmo temático e moral. “Lixo”, do inglês Stephen Daldry — realizador de títulos como “Billy Elliott”, “As Horas” e “O Leitor”, respectivamente de 2000, 2002 e 2008 —, é um desses filmes.
Inspirado no romance homónimo de Andy Mulligan, “Lixo” começa por se apresentar como o retrato mais ou menos realista de três crianças brasileiras que, numa cidada não identificada, vivem dos objectos que vão recolhendo numa enorme lixeira. Quando descobrem uma carteira com dinheiro e alguns documentos, para eles começa uma odisseia em que têm de enfrentar forças e interesses que, obviamente, não controlam…
A pouco e pouco, o filme mais não procura do que transformar as crianças em “anjos da guarda” de um ideal de pureza que, a pouco e pouco, se desliga por completo da crueza inicial do contexto. Em boa verdade, “Lixo” vai deslizando para uma parábola simplista sobre a pobreza, para mais apresentada através de uma “fotogenia” que tem tanto de gratuito como de demagógico — isto sem esquecer que, desde a construção narrativa à montagem, tudo resulta vulgar, parecendo, insolitamente, parece feito à pressa.
Gerado através de uma aliança de produção entre brasileiros e europeus (Reino Unido/Alemanha), “Lixo” recorre a dois actores americanos — Rooney Mara e Martin Sheen — para criar um efeito de “internacionalização” que só agrava o simplismo de todo o projecto. É caso para dizer que acontece aos melhores…