joao lopes
29 Jan 2015 1:39
É uma espécie de assombramento formal: em todas as temporadas de Oscars, há filmes que, no seu dispositivo narrativo, mais não são do que normalíssimos telefilmes (desses que os americanos produzem dezenas por ano), mas que adquirem uma evidência desproporcionada em relação aos seus méritos… cinematográficos.
Assim acontece, por exemplo, com "A Teoria de Tudo", o retrato biográfico de Stephen Hawking dirigido por James Marsh. De facto, estamos perante uma crónica mais ou menos melodramática, de exaltação linear e algo mecânica da personagem, para mais sustentada por uma mise en scène que tenta injentar "simbolismo" em quase todas as situações…
Não vem daí grande mal ao mundo, até porque há que reconhecer que este modelo de (tele)filme chegou a um patamar de evidente competência técnica, mais ou menos vistosa, aqui e ali pesadamente maneirista. Mais do que isso: mesmo se não me parece possível comparar "A Teoria de Tudo" com a complexidade cinematográfica de outros títulos que estão na corrida dos Oscars (p. ex.: "Sniper Americano"), é um facto que o trabalho de James Marsh possui o mérito de saber criar espaços para o seu trunfo principal. A saber: os actores.
Escusado será dizer que a composição de Eddie Redmayne, como Hawking, envolve a capacidade de colocar em cena um corpo que vai perdendo o controle sobre as suas próprias faculdades de movimengto e expressão, ao mesmo tempo que o intelecto que o habita continua numa actividade luxuriante.
Em todo o caso, será importante não minimizar a presença de Felicity Jones no papel de Jane Hawking (o filme baseia-se num livro de sua autoria) — ela é, afinal, o mais vulnerável, e também mais enérgico, contraponto emocional à dinâmica da figura central.