joao lopes
31 Jan 2015 20:09
É verdade que os filmes não estão obrigados (longe disso!) a qualquer respeito "naturalista" das situações que retratam. Já nos basta a avassaladora mediocridade que reina no império das telenovelas…
Em todo o caso, vale a pena referir que no actual contexto audiovisual, em que tantas vezes se contesta a "veracidade" de filmes extremamente ousados e inventivos, quase não surgem pontos de vista que, ao menos, discutam a consistência dramática e, sobretudo, a verosimilhança pedagógica de "Whiplash – Nos Limites", de Damien Chazelle.
De facto, esta relação de um baterista com o seu agressivo professor de jazz, encenada como se fosse uma espécie de combate de luta livre (em que o empenho do aluno se mede pelo sangue que, depois de um ensaio, fica nas suas mãos…), não passa de uma redução simplista de uma situação de ensino a uma espécie de drama maniqueísta — dir-se-ia que vogamos no espaço típico de um medíocre jogo de video.
Para além disso, "Whiplash" é, obviamente, um objecto executado com assinalável know how, em especial através do trabalho de composição dos actores: J. K. Simmons, que a maioria dos analistas americanos considera o vencedor "obrigatório" do Oscar de melhor actor secundário, sustenta com eficácia uma personagem, em todo o caso, nunca existe para além de uma mecânica banalidade; francamente mais interessante é a composição de Miles Teller, na personagem do aluno, expondo com subtileza um misto de vulnerabilidade e obstinação.
Que um filme de competências tão rotineiras surja a par de títulos como "Boyhood" ou "Sniper Americano", eis a bizarria que fica por esclarecer…