Jennifer Aniston e Adriana Barraza — um filme


joao lopes
19 Mar 2015 17:08

Na chamada temporada dos prémios — que desemboca, tradicionalmente, na atribuição dos Oscars em finais do mês de Fevereiro —, há sempre "vencedores" e "vencidos". E não necessariamente pelos prémios ganhos ou perdidos — também através as expectativas que se criam em torno de determinados títulos.

Em tal contexto, este ano, "Cake" (agora lançado entre nós com o subtítulo "Um Sopro de Vida") terá sido um dos mais dramáticos perdedores. De facto, o trabalho de Jennifer Aniston, compondo uma personagem atingida por violentas dores crónicas (na sequência de um acidente em que o seu filho morreu), foi tido como um destaque "obrigatório" nas nomeações para o Oscar de melhor actriz…
Acontece que Aniston obteve uma nomeação para o Globo de Ouro de melhor actriz/drama (categoria em que ganhou Julianne Moore, com "O Meu Nome É Alice"), mas ficou a zero nos Oscars — aliás, o filme não conseguiu uma única nomeação. Consequência prática? "Cake" tornou-se uma objecto comercialmente desvalorizado e, tal como está a acontecer em Portugal, estreia muito para além da temporada dos prémios.
Nada disto seria significativo, não se desse o caso de "Cake" ser, de facto, um filme profundamente limitado. Aniston bem se esforça para dar consistência à sua personagem, mas o maniqueísmo das situações, a par da incapacidade de construir um argumento com alguma dinâmica dramática, fazem com que a realização de Daniel Barnz desemboque na retórica de um vulgar telefilme "psicológico".
Os talentos envolvidos são vários e respeitáveis — destaco, em particular, a composição de Adriana Barraza na personagem da fiel empregada de origem mexicana (conhecemo-la, por exemplo, do elenco de "Babel", de Alejandro González Iñárritu). Seja como for, mesmo não esquecendo que, sobretudo nos EUA, "Cake" tem contribuido para diversos debates sobre os problemas sociais das pessoas que sofrem de dores crónicas, os resultados cinematográficos são de uma confrangedora banalidade.

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