Al Pacino no papel de Simon Axler — na intimidade da crise de um actor


joao lopes
8 Mai 2015 4:01

Eis o que se chama um mergulho na intimidade de uma personagem. Mais do que isso: uma viagem assombrada, por vezes cristalina, ao mundo interior de um actor que enfrenta a mais cruel das crises — Simon Axler perdeu o gosto de representar e vive marcado pelo receio de já não saber onde está a fronteira entre vida vivida e vida representada.

"A Humilhação" constitui um exemplo feliz de uma conjugação que, importa reconhecê-lo, estava longe de ser óbvia. A saber: a adaptação cinematográfica de um romance (homónimo) de Philip Roth que vive da mais desconcertante tensão (sexual, afectiva, simbólica) entre Axler e Pegeen, a mulher já madura que lhe surge, transportando as memórias que ele próprio tem dela, ainda criança…
Será preciso sublinhar que um filme sobre um actor necessita de um grande… actor! No papel de Axler, Al Pacino vem mostrar que a crença do cinema americano nos seus intérpretes pode ser mais forte que o artifício de qualquer manipulação digital — ele emerge, afinal, como expressão da intensidade humana (com todos os seus enigmas) que a presença face a uma câmara pode envolver.
Barry Levinson, o realizador de "A Humilhação", é um especialista nestes filmes não-alinhados, procurando através dos actores tocar as fronteiras mais perturbantes da identidade humana. Na sua filmografia, podemos citar, por exemplo, os emblemáticos "Bom-Dia, Vietname" (1987), "Rain Man/Encontro de Irmãos" (1988) ou "Manobras na Casa Branca" (1997) — "A Humilhação" não será um dos seus filmes mais perfeitos, mas é uma demonstração eloquente de um desejo de cinema que não se deixou vencer pela sedução simplista dos efeitos ditos especiais.

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