Cherien Dabis em


joao lopes
15 Ago 2015 0:20

"O Verão de May" é mais uma interessante estreia de Verão que merece não ficar "bloqueada" pela avalanche promocional dos títulos industrialmente mais poderosos. Estamos mesmo perante um genuíno exemplo de produção independente, fabricado com o decisivo apoio do Sundance Institute (a sua estreia ocorreu, precisamente, na edição de 2013 do Festival de Sundance).

Não se trata de uma história autobiográfica. Em qualquer caso, há nela ecos muito sensíveis da experiência da realizadora Cherien Dabis, uma americana filha de pai palestiniano e mãe jordana que, ao longo dos anos, visitou regularmente a Jordânia. "O Verão de May" decorre, justamente, em Amã, capital da Jordânia — a protagonista regressa para preparar o seu casamento com um muçulmano, facto que suscita a resistência da sensibilidade cristã da sua mãe…


Escusado será dizer que, de uma maneira ou de outra, os sintomas de muitas tensões do Médio Oriente ecoam na trama de acontecimentos de "O Verão de May". Em todo o caso, importa sublinhar que tal não acontece através de qualquer "simbologia" simplista. Bem pelo contrário, todo o trabalho de Dabis consiste em valorizar o carácter irredutível de cada personagem, evitando encerrá-la em lógicas fechadas e maniqueístas.
A proeza de Dabis é tanto mais interessante quanto "O Verão de May" resulta de um trabalho multifacetado — ela é, afinal, argumentista, realizadora e intérprete principal (da personagem de May). Tendo em conta que o seu filme consegue reavivar as virtudes de uma clássica escrita melodramática, podemos dizer que há nela um apego à tradição que, afinal, se combina exemplarmente com as exigências de um olhar contemporâneo.

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