joao lopes
18 Set 2015 0:53
Provavelmente, com o seu primeiro trabalho de realização, "Rio Perdido", Ryan Gosling terá tentado reencontrar uma certa energia clássica, ligada a mestres como Elia Kazan ou King Vidor, em particular no modo de retratar o Sul dos EUA. É bem certo que, no seu caso, a acção se situa na região de Detroit, mas parece claro que ele procura fixar a estranha e perturbante convivência entre a crueza dos lugares e as sombras da mitologia.
Digamos que as linhas gerais da história — centrada numa família cuja mãe (Christina Hendricks) tenta encontrar algum equilíbrio para os seus dois filhos — se prestava a tal projecto temático e estético. A saber: explorar a intensidade de um realismo à flor da pele, ao mesmo tempo registando a emergência de sentidos ocultos e, no limite, fantasmáticos.
Infelizmente, o filme vai adoptando uma atitude algo indulgente em que parece ser menos importante preservar as singularidades das personagens, optando-se antes pela exibição de um formalismo que se esgota no "barroquismo" algo postiço da direcção fotográfica de Benoît Debie.
Hendricks é, evidentemente, uma actriz capaz de figurar subtis emoções e Iain De Caestecker, intérprete do filho mais velho, afigura-se um intérprete com potencial. O certo é que, apesar de se tratar de um filme dirigido por um actor, parece não haver suficiente crença para confiar nos actores como peças nucleares das tensões que se querem fazer passar — é pena, porque "Rio Perdido" talvez pudesse ter sido um simpático retorno a um classicismo algo esquecido.