joao lopes
1 Out 2015 21:23
Mesmo não recuando muito no tempo, poderemos considerar que as memórias cinéfilas do planeta Marte oscilam entre dois modelos: o drama humano de expedições como aquela que Brian De Palma encenou em "Missão a Marte" (2000) e a aventura mais ou menos fantasista, com chancela dos estúdios Disney, que encontramos em "John Carter" (2012).
O mínimo que se pode dizer da nova proposta de Ridley Scott — "Perdido em Marte" — é que se define numa espécie de território intermédio, algures entre a aventura clássica e o retrato psicológico, que acaba por lhe conferir um tom que faz lembrar algumas produções mais antigas, directa ou indirectamente marcadas pelo espírito da "série B", como "Invaders from Mars" (1953), de William Cameron Menzies.
Baseando-se no romance "The Martian", de Andy Weir, o filme de Scott é, afinal, uma clássica e empolgante história de sobrevivência, centrada na personagem de um astronauta/biólogo que fica abandonado no Planeta Vermelho, já que os seus companheiros de tripulação julgam que ele terá morrido durante uma violenta tempestade.
É um filme singularmente desprovido de "transcendência": Scott não usa o seu herói para fazer "passar" uma qualquer mensagem mais ou menos abstracta ou redentora, preferindo antes encená-lo como um ser humano no trabalho — de facto, para sobreviver em Marte, o protagonista terá que aplicar o melhor dos seus conhecimentos, em particular para conseguir cultivar os alimentos (batatas!) necessários para resistir durante alguns anos de espera…
Scott tem ao seu dispor um elenco de luxo que inclui, entre outros, Matt Damon (no papel central), Jessica Chastain (líder da missão), Jeff Daniels, Kate Mara, Chiwetel Ejiofor, Sean Bean e Mackenzie Davis. E o filme a eles muito deve, já que, mesmo tendo em conta a sua sofisticação de produção, "Perdido em Marte" não é um objecto de ostentação técnica, antes uma odisseia de gente humana, tocantemente humana.