joao lopes
15 Jan 2016 23:01
É bem verdade que a revitalização das matrizes melodramáticas do cinema clássico constitui uma fundamental linha de força de zonas importantes da actual produção americana (ou melhor, de língua inglesa). O certo é que tal processo não será o mesmo que ceder às convenções do telefilme mais ou menos "psicológico" — "Brooklyn" é um filme insolitamente enredado entre uma hipótese e outra.
O ponto de partida é um romance de Colm Tóibín, adaptado por Nick Hornby, centrado numa personagem de sedutora complexidade emocional: Eilis é uma jovem irlandesa que, em meados da década de 1950, é levada a procurar nos EUA uma vida alternativa e, de alguma maneira, mais segura — ao apaixonar-se no seu novo país, vai ter de enfrentar, a certa altura, a necessidade de regressar às origens…
Por um lado, a figura de Eilis surge interpretada por Saoirse Ronan, intérprete que, desde a sua revelação em "Expiação" (2007), se tem afirmado como uma actriz de invulgar versatilidade; por outro lado, o filme parece interessar-se menos pelo carácter irredutível das personagens e mais pela ostentação daquilo que, na gíria, se designa por "reconstituição" histórica — a densidade psicológica cede, assim, ao decorativismo mais televisivo.
Conseguirá Ronan chegar à vitória no Oscar de melhor actriz? Aliás, convém recordar que "Brooklyn" tem outras duas importantes nomeações: melhor argumento adaptado e melhor filme. Seja como for, este é um exemplo de uma certa nostalgia interior à actual dinâmica industrial que, para além das suas óbvias competências profissionais — e do seu louvável gosto pelas histórias de amor à moda antiga —, tem dificuldade em superar os limites de um certo academismo formal e narrativo.