Rachel MacAdams, Mark Ruffalo, Bryan d'Arcy James, Michael Keaton e John Slattery — 'Spotlight' em acção


joao lopes
28 Jan 2016 22:33

Decididamente, importa contrariar a visão estereotipada da produção cinematográfica americana como uma fábrica apenas orientada para os "blockbusters" que estamos habituados a ver nos lugares da frente da contabilidade das bilheteiras… Há mais mundos. E há muito mais filmes que importa não secundarizar.

Este ano, mais do que nunca, basta passar os olhos pela lista dos principais nomeados para os Oscars para pressentirmos essa fascinante diversidade. Com seis nomeações — incluindo uma para melhor filme e duas nas categorias secundárias de interpretação (Mark Ruffalo e Rachel MacAdams) —, realizado por Tom McCarthy, "O Caso Spotlight" é um dos títulos que, de forma brilhante, ilustra uma tradição vital na história de Hollywood: a abordagem de grandes temas sociais a partir do trabalho jornalístico.
Trata-se, assim, de seguir a odisseia de um grupo, denominado ‘Spotlight’ (o título português é algo equívoco), pertencente ao jornal The Boston Globe, investigando uma série de casos de pedofilia que viria a ter dramáticas repercussões, tanto nos EUA, como a nível internacional — em questão estão as agressões sexuais a crianças perpetradas por membros da Igreja Católica. A publicação de vários artigos sobre o assunto, iniciada em 2001, veio a receber um Prémio Pulitzer de excelência jornalística.
Que está em jogo, então? Digamos, acima de tudo, que isto não é um banal "talk show" em que se exibem as vítimas para suscitar as mais primárias reacções de piedade. "O Caso Spotlight", a meio caminho entre a crónica social e o "thriller", segue, ponto por ponto, a investigação jornalística, expondo em particular a dificuldade de encontrar o tempo certo para uma decisão fulcral. A saber: quando chega o momento em que a acumulação de informações devidamente avalizadas pode (e deve) passar para a página do jornal, quer dizer, para o domínio público.
Em tempos de triunfo da irresponsabilidade do jornalismo tablóide, este é um filme apostado em mostrar e demonstrar que o genuíno trabalho jornalístico envolve, sempre, a capacidade de lidar com a complexidade do mundo e das relações humanas. Reencontramos, assim, uma tradição que passa por títulos como "O Grande Escândalo" (Howard Hawks, 1940), "América, América para Onde Vais?" (Haskell Wexler, 1969) ou "Os Homens do Presidente" (Alan J. Pakula, 1976) — "O Caso Spotlight" é um legítimo herdeiro da nobreza desses filmes.

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