1 Abr 2016 0:51
A história conta-se mais ou menos assim: Pierre (Stanislas Mehrar) e Manon (Clotilde Courau) constituem um casal que, com maiores ou menores dificuldades, vai realizando filmes; durante a rodagem de um documentário, Pierre envolve-se com outra mulher, Elisabeth (Lena Paugam), mais tarde vindo a descobrir que Manon tem uma relação com um outro homem (Mounir Margoum)…
Vogamos nos domínios clássicos do melodrama. E é bem verdade que Philippe Garrel se pode considerar um autor fiel a um classicismo em que, paradoxalmente, se enraizou a modernidade. Dito de outro modo: nascido em 1948, ele é um herdeiro muito directo das convulsões da Nova Vaga francesa, mantendo-se fiel a um cinema de delicado intimismo que "À Sombra das Mulheres" prolonga de forma exemplar.
Infelizmente, um preconceito favorecido pelos valores televisivos mais medíocres faz pensar (?) que um filme a preto e branco é apenas um "luxo" formal que não merece especial atenção… Acontece que a quase totalidade da obra de Garrel é feita num preto e branco que não pode ser dissociado de uma elaborada dinâmica dramática e humana — num certo sentido, as suas ficções amorosas são também testemunhos "documentais" sobre os labirintos das relações humanas.
Num tempo em que o mercado está marcado pelo ruído das campanhas dos títulos mais "típicos" da chamada temporada de Verão (mesmo que estejamos no começo da Primavera…), "À Sombra das Mulheres" aí está como um exemplo brilhante de um cinema que não abdica dos valores que o fundamentam, em boa verdade sem qualquer forma de saudosismo. À sua maneira, Garrel é também um retratista da evolução dos usos e costumes e, por isso mesmo, dos motivos (racionais ou irracionais, convulsivos ou silenciosos) que aproximam, ou afastam, homens e mulheres.