joao lopes
1 Mai 2016 0:34
Quando, já perto do final de "Todos Querem o Mesmo", Richard Linklater filma duas personagens a falar ao telefone, dividindo o ecrã em curiosos jogos visuais, sentimos que, finalmente, acontece qualquer coisa de minimamente inventivo…
Entenda-se: um filme não se mede pelos acontecimentos mais ou menos "acrobáticos" que pontuam a sua narrativa. Acontece que Linklater parece ter feito "Todos Querem o Mesmo" como se se tratasse apenas de acumular anedotas (?) sobre um grupo de jovens que, no começo dos anos 80, queimam os últimos "cartuchos" antes de entrarem na vida universitária.
Compreende-se que o realizador quisesse fazer uma espécie de sequela do seu "Dazed and Confused" (1993) que, além do mais, foi uma plataforma de lançamento de nomes como Matthew McConaughey e Ben Affleck. O certo é que, dois anos depois de termos visto o que fez no sublime "Boyhood", não é possível não sentir as diferenças entre a densidade dessa experiência e a futilidade do novo filme — acontece aos melhores…
A não esquecer, entretanto, que "Todos Querem o Mesmo" apresenta, em complemento, o filme "Balada de um Batráquio", de Leonor Teles. Através de uma montagem vibrante, assistimos a uma breve e incisiva crónica contra o racismo que se traduz na utilização, em alguns establecimentos comerciais, de sapos de louça para "afastar" ciganos — em Fevereiro, "Balada de um Batráquio" arrebatou o Urso de Ouro de melhor curta-metragem no Festival de Berlim.