12 Jun 2016 18:25
Não são muitos os filmes que têm arriscado lidar com os mais recentes conflitos nos Balcãs, em particular com a guerra da Bósnia (concluída em 1995, com os acordos de Dayton). Podemos recordar a evocação dramática e burlesca de "Terra de Ninguém" (2001), de Danis Tanovic, distinguido com o Oscar de melhor filme estrangeiro, e ainda o brilhante "Na Terra de Sangue e Mel" (2011), escrito e dirigido por Angelina Jolie.
"Um Dia Perfeito" constitui uma nova aposta de abordagem de tais contextos, mais concretamente o período final de 1995, quando a paz já foi oficialmente estabelecida, persistindo embora muitos focos de tensão. O filme centra-se, aliás, na acção de um grupo internacional de auxílio humanitário que, confrontado com uma tarefa muito específica — retirar um cadáver de um poço, de modo a restabelecer o abastecimento de água às populações locais —, depara com resistências inevitavelmente ligadas aos diferendos que desencadearam a guerra.
O filme aposta, assim, num registo em que a urgência das missões se confronta com problemas que estão muito para além das meras questões logísticas. Num registo que tenta combinar o realismo das situações com um distanciamento mais ou menos irónico, "Um Dia Perfeito" (a ironia começa, como é óbvio, no próprio título) possui as virtudes de uma crónica detalhada, dir-se-ia quase jornalística, e os muitos limites de uma narrativa que parece ter como objectivo principal um balanço "simbólico" algo simplista.
Trata-se, curiosamente, de uma produção de origem espanhola, dirigida por Fernando León de Aranoa, cineasta de quem o conhecíamos o bastante mais interessante "Às Segundas ao Sol" (2002). Visando um mercado internacional de língua inglesa, o filme recorre a um elenco, também ele internacional, que inclui, entre outros, Benicio Del Toro, Tim Robbins, Olga Kurylenko, Mélanie Thierry e Sergi López. Apesar dos talentos envolvidos, a simpatia dos resultados não esconde o seu convencionalismo dramático.