Isabelle Huppert e Roman Kolinka em


joao lopes
18 Jun 2016 2:20

Os tempos não estão fáceis para filmes com gente viva — e, já agora, actores que não sejam digitais. Basta observar o modo como as convulsões do mercado são geridas por campanhas gigantescas que agitam tudo e todos quando chega mais um super-herói ou algum desenho animado ("bom" ou "mau", não é isso que está em causa). O efeito prático de tal conjuntura é óbvio: títulos como "O Que Está por Vir", de Mia Hansen-Løve, surgem desamparados, por vezes experimentando sérias dificuldades para encontrar o seu público potencial.

O mínimo que se pode dizer de "O Que Está por Vir" é que coloca em cena personagens que estão longe de corresponder a clichés correntes (e nada têm a ver com a triste "psicologia" de telenovelas e afins). Esta é a história de uma professora de filosofia, interpretada por Isabelle Huppert, subitamente confrontada com o desabar do seu mundo privado — a doença da mãe e a traição do marido vão obrigá-la a refazer muitos e decisivos aspectos da sua existência…




Apetece dizer que estamos perante um melodrama filosófico. Não por qualquer pretensiosismo intelectual, mas por motivos visceralmente… intelectuais. Dito de outro modo: a protagonista é levada repensar toda a sua filosofia de vida, num processo que Mia Hansen-Løve filma através de uma espantosa e subtil agilidade. Em última instância, somos levados a confrontar o peso das opções individuais com as imposições decorrentes dos valores sociais dominantes — esta é, de facto, a história de alguém que procura o seu lugar no mundo.
"O Que Está por Vir" inscreve-se, assim, na mais nobre tradição (melo)dramática da produção cinematográfica francesa, essa a que pertencem nomes incontornáveis como Jean Renoir, François Truffaut ou André Téchiné. Sem esquecer, claro, que a energia de tal tradição tem nos actores um trunfo sempre fundamental — será preciso acrescentar que Huppert é genial?

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