joao lopes
23 Jul 2016 1:51
Será que ainda há espaço para um cinema documental que, de uma maneira ou de outra, sustente um discurso "militante", "panfletário", numa palavra, "político"? As aspas não são irónicas. Decorrem apenas de uma dúvida ao mesmo estética e simbólica: onde estão os discursos devidamente elaborados (e sustentados) para enquadrar tal labor cinematográfica?
"Amanhã", de Cyril Dion e Mélanie Laurent, constitui uma resposta tão interessante quanto limitada. Que está em jogo? A discussão do estado do planeta Terra e, em particular, da acção dos humanos na degradação das suas condições climatéricas. E qual a proposta do filme? Em boa verdade, pouco mais do que uma esquemática reportagem televisiva, conduzida por um voz off em tom de sermão mais ou menos voluntarista e "libertador".
Não simplifiquemos, claro. Os problemas que estão em jogo — desde a gestão das fontes de energia até à experimentação de modelos alternativas de cultivo do solo — são muitos e muito delicados. Em todo o caso, "Amanhã" nunca consegue superar o estatuto de uma deambulação mais ou menos típica de uma peça de noticiário televisivo.
Importa, por isso, sublinhar o mais positivo. Ou melhor: a afirmação de uma lógica (pela) positiva, inventariando situações de pessoas e grupos que não desistem de conceber e consolidar formas de trabalho que, em todos os domínios, contrariem a agressão dos equilíbrios ecológicos. Do ponto de vista do filme, poderá dizer-se que essa abertura de espaços de conhecimento, porventura de reflexão, corresponde ao seu objectivo principal.