Alba Rohrwacher — a história de uma mulher obrigada a viver como um homem


joao lopes
7 Out 2016 0:35

Imaginemos este perturbante cenário: uma mulher resiste à tradição que a obriga a casar-se com um determinado homem; em nome dessa tradição, é então obrigada a assumir um voto de eterna virgindade; mais do que isso: deve mudar de nome (de Hana para Mark) e passar a viver de acordo com as regras e comportamentos dos homens…

Não é uma fábula mais ou menos delirante de um mundo alternativo. Nada disso: estamos perante uma história dos nossos dias situada num lugar remoto, esquecido no meio das montanhas, algures na Albânia — o filme, "Virgem Prometida", tem realização de Laura Bispuri e provém do mais austero e realista cinema italiano.


A história de Hana/Mark vai sofrer uma inevitável convulsão quando, dez anos mais tarde, ela acaba por sair do seu país, instalando-se em Itália (em casa de uma prima com quem partilhara a adolescência). Para ela, não se trata apenas de lidar com uma conjuntura social e moral em que as relações mulheres/homens se encontram enquadradas por outros valores. Há também uma interrogação que se instala: que energia sobreviveu naquele corpo que foi compelido a existir através de uma máscara?

Alba Rohrwacher é magnífica no papel central, sabendo evitar qualquer facilidade "simbólica" ou "panfletária" na definição da personagem. Em boa verdade, tudo isso decorre da postura e visão de Bispuri que recusa extrapolações fáceis: "Virgem Prometida" apresenta-se, afinal, como uma crónica crua e desencantada, mas também serenamente optimista, sobre um destino individual a que foi roubada a sua verdade mais íntima — estamos perante um subtil "supense" emocional.

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