joao lopes
20 Out 2016 0:54
Será que Tom Cruise está preso à lógica da "franchise" que triunfou através de "Missão Impossível"? Não estão em causa os momentos brilhantes dessa saga — dirigidos por Brian De Palma e Christopher McQuarrie, respectivamente em 1996 e 2015. Resta saber se Cruise não se envolveu com a personagem de Jack Reacher para tentar "repetir" o impacto de "Missão Impossível"…
O primeiro título baseado na figura do aventureiro criado por Lee Child, dirigido pelo citado McQuarrie, era um espectáculo consistente, valorizado pelo contraponto feminino de Rosamund Pike. Chamava-se apenas "Jack Reacher" e, num misto de cruel realismo e ironia cortante, colocava em cena a personagem do ex-major que vai tentando repor a ordem (militar e civil) através da missões mais insólitas e arriscadas.
Agora na companhia de Cobie Smulders, Cruise surge numa odisseia em que está em jogo o seu próprio estatuto de "vingador". Face a este segundo episódio da "franchise" — "Jack Reacher: Nunca Voltes Atrás", realizado por Edward Zwick —, podemos perguntar se Cruise não corre o risco de tentar sustentar um universo que, de facto, em vários aspectos, parece uma versão condensada e muito mais estereotipada de "Missão Impossível".
É certo que, apesar de tudo, "Jack Reacher: Nunca Voltes Atrás" consegue alguns momentos de contagiante dramatismo, mais ou menos ligados a uma observação aguda das chagas do quotidiano, momentos que o demarcam de muitos produtos do mesmo género. Resta saber se a competência de execução que aqui encontramos conseguirá sustentar-se para além da imitação de padrões que, em boa verdade, também já vimos concretizados com outra subtileza e sofisticação. Onde? Na série "Missão Impossível"…