joao lopes
21 Out 2016 0:18
Não se pode dizer que Woody Allen seja um grande amante dos faustos de Hollywood. Apesar de já ter ganho quatro Oscars (os dois primeiros como realizador e argumentista de "Annie Hall", em 1978), nunca esteve presente para os receber… E, no entanto, Hollywood continua a pontuar o seu trabalho.
É essa, pelo menos, a porta de entrada no magnífico "Café Society", filme que nos transporta para os eufóricos anos 30, quando o cinema americano vivia as aceleradas transformações do mudo para o sonoro, com a consolidação de novos modelos narrativos e também do próprio star system. A sua personagem central, Bobby (Jesse Eisenberg), é mesmo um jovem que, através de ligações familiares, tenta a sua sorte na indústria dos filmes.
Repare-se, no entanto, na origem de Bobby: ele vem, afinal, de Nova Iorque e, em boa verdade, toda a sua existência em Los Angeles vai ser marcada pelas memórias da grande metrópole da costa Leste. Dir-se-ia que até mesmo o seu envolvimento amoroso com Vonnie (Kristen Stewart) se vai desenvolver como um confronto de duas sensibilidades geográficas e culturais.
Mais do que retratar Hollywood num período muito específico, Woody Allen aposta em recuperar a energia melodramática desse mesmo período, afinal fazendo um filme "antigo", agora com o distanciamento de quem controla em absoluto as subtilezas das linguagens que convoca.
Será preciso sublinhar que, uma vez mais, isso acontece através de um elenco em estado de graça? Para além do par Eisenberg/Stewart, admire-se a subtileza das composições de Steve Carrell ou Blake Lively — afinal, este é um cinema enraizado nas singularidades dos seus intérpretes.