joao lopes
4 Nov 2016 0:21
Não é muito provável que o jovem Lewis MacDougall venha a ser "consagrado" pelo seu papel de Conor, o rapazinho que é convocado por um monstro em "Sete Minutos Depois da Meia-Noite" (título original: "A Monster Calls") para enfrentar a precária situação de saúde da sua mãe… E, no entanto, MacDougall é um caso muito sério de verdade dramática e presença carismática.
Trata-se, afinal, de encenar uma história que é, ela própria, sobre o poder de contar histórias. Dito de outro modo: o filme que adapta o "best-seller" internacional de Patrick Ness celebra a possibilidade de retorno a um registo narrativo em que o fantástico não é um artifício banalmente técnico, antes decorre da velha e nobre tradição das fábulas.
Como se compreenderá, estamos bem longe das variações mais recentes dos filmes de "super-heróis", quase todos viciados por um novo-riquismo tecnológico que, pura e simplesmente, ignora a vocação narrativa do cinema ("Doutor Estranho" surgiu como uma simpática excepção). A realização do espanhol J. A. Bayona prefere escolher as personagens e as suas relações, em vez dos efeitos especiais (?) e sua ostentação.
Curiosamente, Bayona tem no seu horizonte um desafio que implicará, por certo, as capacidades que, com felicidade, exibe em "Sete Minutos Depois da Meia-Noite": será ele o realizador da sequela de "Parque Jurássico", com lançamento previsto para 2018 — vale a pena esperar. Entretanto, convém sublinhar que o monstro que visita Conor tem voz de Liam Neeson. E também que Felicity Jones, no papel da mãe de Conor, é outro trunfo humano desta história que supera as fronteiras do espaço humano.