Michael Fassbender em viagem à Inquisição espanhola — a arte de desperdiçar talentosos actores


joao lopes
6 Jan 2017 0:12

Será que, mesmo para os fãs de video-jogos, já não se passa mais nada a não ser isto?… A saber: uma linha narrativa em que, inevitavelmente, esquematicamente, dir-se-ia preguiçosamente, o mundo vai acabar… E, depois, imagens tão rápidas (?) quanto possível em que a única "ideia" recorrente consiste em multiplicar os voos rasantes sobre cenários mais ou menos em ruínas…

Apesar de tudo, perante "Assassin’s Creed", seria possível colocar a questão num plano que é (ou poderia ser) mais interessante. A saber: algures no nosso tempo, Callum Lynch é levado a explorar, ou melhor, a "habitar" as memórias do seu antepassado Aguilar — desse modo, vê-se conduzido ao final do século XV e, mais especificamente, ao contexto de perseguições e violência em que se consolida o poder da Inquisição espanhola…
Que fazer com isto? Digamos, para simplificar, que o realizador Justin Kurzel não tem nenhum programa (temático, estético, o que se quiser) para fazer o que quer que seja… A não ser alternar cenas de pueril especulação "filosófica" com outras em que o passado histórico não passa de um labirinto de imagens aceleradas e sons agressivos.
Em boa verdade, Kurzel parece seguir o mesmo método que já aplicara em "Macbeth" (2015), desse modo provando que não há "boas" nem "más" inspirações — Shakespeare ou video-jogo, vai tudo dar à mesma confusão… Arrastando, aliás, os mesmos actores: é penoso ver o talento de Michael Fassbender e Marion Cotillard reduzido à condição de um gadget sem importância. Ainda há por aí alguém que goste de cinema? Da singularidade dos corpos e dos gestos? Da descoberta de um mundo não parasitado pelo maniqueísmo tecnológico?

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