joao lopes
9 Jan 2017 0:10
Em alguns momentos do documentário "Cruzeiro Seixas: as Cartas do Rei Artur", realizado por Cláudia Rita Oliveira — prémio do público no DocLisboa 2016 —, encontramos o protagonista a contemplar imagens de Mário Cesariny, pertencentes a outro trabalho documental, "Autografia" (2004), de Miguel Gonçalves Mendes (em reposição paralela).
É uma contemplação que envolve tanto de reconhecimento como de utopia. Dito de outro modo: Cruzeiro Seixas revê em Cesariny a energia e as marcas da criatividade surrealista, ao mesmo tempo que o filme de Cláudia Rita Oliveira os liga através de uma cumplicidade que, sendo artística, acaba por ser singularmente estética & política — naquilo que a estética pode envolver de visão política do mundo.
Nesta perspectiva, talvez que "Cruzeiro Seixas: as Cartas do Rei Artur" não seja exactamente um retrato biográfico, mas mais um objecto de militância pelo reconhecimento dos valores específicos do surrealismo e, muito em particular, pela necessidade de preservar a sua memória plural.
Se os documentários podem ser descritos também em função da sua dimensão informativa, talvez possamos dizer que "Cruzeiro Seixas: as Cartas do Rei Artur" é, acima de tudo, um compêndio de dados e datas que nos ajudam a compreender o movimento surrealista português — um pouco como os cadernos de "apontamentos" de Cruzeiro Seixas, centrais na construção narrativa do filme.