joao lopes
12 Jan 2017 17:44
Há filmes em que parece que está tudo certo… Desde os cenários e guarda-roupa da época em que decorre a acção, até aos sinais mais ou menos cinéfilos que nos permitem detectar a sua genealogia artística. "Viver na Noite" é, por certo, um desses filmes — porquê, então, a sensação de que está tudo errado?…
O mínimo que se pode dizer é que Ben Affleck se lançou no projecto mais ambicioso da sua carreira de realizador, depois de "Vista pela Última Vez…" (2007), "A Cidade" (2010) e "Argo" (2012), este consagrado nos Oscars. De novo a partir de um romance de Dennis Lehane (tal como no seu primeiro filme), Affleck lança-se na tripla qualidade de director/argumentista/protagonista, procurando satisfazer uma evidente nostalgia pelo clássico filme "noir".
O problema é que não basta ser mais ou menos eficaz no fingimento das poses e gestos de Humphrey Bogart para recuperar a densidade narrativa e a perturbação emocional da tradição "noir". A história de Joe Coughlin (Affleck), filho de um polícia e figura central do sub-mundo de Boston durante a Lei Seca, acaba por ser reduzida a um exercício decorativo que não supera a condição de telefilme de luxo.
Para além de Affleck, o filme conta ainda com as participações de gente tão talentosa como Elle Fanning, Sienna Miller, Brendan Gleeson, Zoe Saldana e Chris Cooper, ou ainda o "oscarizado" director de fotografia Robert Richardson — infelizmente, a competência disponível não chegou para conferir intensidade, ou mesmo motivação, àquela que fica como uma das primeiras deislusões do ano cinematográfico.