Annette Bening em


joao lopes
17 Fev 2017 23:20

Vai ser, infelizmente, um dos "vencidos" dos Oscars — porque só tem uma nomeação, para o realizador Mike Mills (na qualidade de argumentista), mas sobretudo porque a alegria com que aposta na recriação dos valores clássicos do melodrama tem passado ao lado da maior parte dos debates em torno do mérito dos filmes que, de uma maneira ou de outra, surgem na corrida aos prémios da Academia de Hollywood.

Aliás, a discreta maldição que se abateu sobre "Mulheres do Século XX" envolve também a admirável Annette Bening naquela que é, muito simplesmente, uma das interpretações do ano (tem um historial de quatro nomeações para os Oscars, sem nunca ter ganho). Bening assume a personagem de Dorothea, uma mulher da Califórnia que, em 1979, tenta dar um rumo certo à educação do seu filho adolescente…
Aquilo que Mills filma não é exactamente um simbolismo abstracto que, alguns, eventualmente, poderão detectar no título. Se há uma "generalização", com o seu quê de irónico, em relação às mulheres do século XX, isso decorre do facto de cada ser humano existir sempre a partir de uma confluência de memórias em que, por assim dizer, o social e o familiar se combinam nas transparências e enigmas de cada identidade.
Contando também com excelentes composições de Lucas Jade Zumann (o talentoso intérprete do filho de Dorothea), Elle Fanning, Greta Gerwig e Billy Crudup, eis um objecto de cinema que resiste às ilusões de moda, distanciando-se de qualquer "modernismo". Em última instância, "Mulheres do Século XX" assume-se como uma celebração da mais nobre tradição melodramática de Hollywood e, muito em particular, da sua capacidade para lidar com a pluralidade dos laços familiares — seria uma pena que um filme tão belo, por vezes tão emocionante, fosse anulado pelas facilidades mediáticas em torno dos Oscars.

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