Para não esquecer o melodrama
Algum cinema francês sabe manter-se fiel à herança das suas matrizes clássicas. Assim acontece em "Duas Mulheres, um Encontro", um belo melodrama de Martin Provost, com Catherine Deneuve e Catherine Frot.

Enfim, por uma vez um título português (muito diferente do original) não é uma invenção disparatada que, em última instância, apenas penaliza o filme em questão.
A solução "Duas Mulheres, um Encontro" surge, por isso, como uma maneira sugestiva e equilibrada de referir o que, realmente, está em jogo. A saber: Claire e Béatrice (respectivamente, Frot e Deneuve) reencontram-se sob o signo da memória de um homem — o pai de Claire suicidou-se depois de ter vivido com Béatrice; esta, ao pretender reencontrar Claire, não sabe o que aconteceu… O encontro das duas mulheres envolverá, por isso, um misto de proximidade e estranheza que, no limite, as vai conduzir a reavaliar a sua própria identidade.
Também responsável pelo argumento do filme, Provost toma o partido das suas personagens. Que é que isso significa? Antes do mais, contrariar qualquer solução maniqueísta típica de alguns debates televisivos — são seres humanos que estão em cena, não símbolos "sociológicos". Depois, retomando a velha moral do mestre Jean Renoir — cada um tem as suas razões —, expondo o encontro das duas mulheres como um desafio intimista em que, em última análise, está em jogo a relação de cada uma delas com a nitidez indizível da morte.