joao lopes
13 Jul 2017 1:58
Há filmes que o mercado lança que parecem não interessar ao próprio mercado. Aliás, a questão coloca-se antes, no plano específico da indústria. Assim, por exemplo, "3 Gerações": revelado no Festival de Toronto de 2015, chegou há pouco mais de um mês às salas americanas, entrando agora no circuito comercial português…
É certo que o filme realizado por Gaby Dellal teve uma vida difícil nos EUA, por um lado suscitando alguma polémica em torno da representação de uma jovem de 16 anos, interpretada por Elle Fanning, que se sente um rapaz e quer mudar de sexo (a discussão da própria da classificação etária do filme atrasou o seu lançamento). Seja como for, impõe-se a pergunta mais cândida: porquê e para quê tão inusitada espera?… Fanning, por exemplo, depois "3 Gerações", já rodou 10-filmes-10!
Enfim, isto para dizer que é pena que um objecto construído com tanto cuidado e rigor dramático surja como uma espécie de resto do Verão cinematográfico… Acima de tudo, Dellal (também co-autora do argumento) sabe situar a sua história muito para além — é caso para dizer: aquém — de qualquer maniqueísmo moral ou facilidade panfletária. Este é um filme sobre um processo complexo, desde as convulsões familiares até às questões médicas, em que o essencial passa pelo valor irredutível de cada personagem.
Daí que seja inevitável sublinhar a importância do trio feminino que domina o filme: Susan Sarandon, compondo uma avô que transporta peculiares lições de vida; Naomi Watts, dando vida a uma mãe que, através da história da filha, reencontra as memórias mais perturbantes do seu próprio divórcio; enfim, Elle Fanning, voltando a provar que é, de facto, uma das mais talentosas jovens actrizes de Hollywood — fez 19 anos no dia 9 de Abril; tinha 16 anos, tal como a sua personagem, quando rodou "3 Gerações".