joao lopes
27 Jul 2017 0:30
Goste-se mais ou goste-se menos da visão de Luc Besson como produtor e realizador, importa reconhecer-lhe a virtude da persistência. Que é como quem diz: a sua aposta de constituir um império francês de produção, capaz de desafiar os americanos no seu próprio terreno, continua activa. E desafiante.
Aí está o novo exemplo: "Valérian e a Cidade dos Mil Planetas" adapta a BD de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières com recursos grandiosos que o transformam no filme mais caro de sempre (170 milhões de euros) rodado na Europa.
Dir-se-ia que Besson atrai a mais perversa das perguntas. Ou seja: tendo meios tão espectaculares, para quê insistir em ocupar os lugares dos "blockbusters" americanos concebidos, e agressivamente promovidos, para o Verão? A resposta passará, por certo, pelos momentos de sucesso que Besson já viveu graças à sua estratégia. Por exemplo: "O Quinto Elemento" (1997) e "Lucy" (2014), respectivamente com Bruce Willis e Scarlett Johansson.
Desta vez, Besson não tem nenhuma estrela do mesmo calibre a liderar o elenco. Dane DeHaan no papel de Valérian e Cara Delevingne como Laureline são escolhas funcionais, sem star power — ela possuindo óbvias qualidades de interpretação, ele nunca emprestando qualquer tipo de fulgor ao seu herói. Em boa verdade, o problema de fundo está no facto de Besson encarar as personagens como meros "gadgets" para sustentar uma imensa, por vezes fascinante, quase sempre redundante, concepção digital dos cenários.
Daí o paradoxo de um objecto como "Valérian…". É um facto que o seu visual é trabalhado com imensa sofisticação, conseguindo gerar mundos, como o planeta Alpha, ameaçado pelas forças do Mal, que têm qualquer coisa de surreal e insolitamente táctil. Ao mesmo tempo, esta história do século XXVIII é tratada como se um enunciado mil vezes banalizado — "o universo vai ser destruído…" — fosse suficiente para sustentar um argumento cinematográfico.
Na sua indesmentível exuberância, os resultados são a demonstração muito real de que há cada vez mais projectos espectaculares que se reduzem à acumulação desconexa de situações mais ou menos derivadas de um banal jogo de video. Besson parece querer superar os americanos imitando o menos interessante das respectivas produções — "Lucy", apesar de tudo, era um filme incomparavelmente mais arriscado e inventivo.