Paul Schrader, como actor/realizador, contracena com Nicolas Cage


joao lopes
23 Ago 2017 23:51

Recentemente, numa entrevista dada a "The Observer", o cineasta americano Paul Schrader dizia, com ironia, que o seu epitáfio começará sempre com a referência ao facto de ele ter sido o argumentista de "Taxi Driver" (1976), de Martin Scorsese… Apetece dizer: não é caso para menos! Mas importa lembrar que, de facto, o homem que realizou títulos como "American Gigolo" (1980), "A Felina" (1982) ou "Mishima" (1985) merece ser citado por muitas outras razões.

Curiosamente, a propósito do seu mais recente trabalho, "Dog Eat Dog" — agora lançado entre nós com o título "Como Cães Selvagens" —, Schrader menorizava os resultados. Vale a pena contrariá-lo. Não será, como é óbvio, um objecto com o fôlego temático dos títulos citados, ou mesmo de realizações mais recentes como "Auto Focus" (2002) ou "Vale do Pecado" (2013), ambos sobre os bastidores do entertainment. Mas é um objecto deliciosamente fora de moda.
Que faz, então, Schrader? Inspira-se num romance de Edward Bunker, precisamente "Dog Eat Dog", para construir um vibrante "thriller" sobre um submundo que acaba por servir de câmara de eco de um dos seus temas de eleição. A saber: a procura de uma pureza original, todos os dias desmentida pelas convulsões das relações humanas. Mais do que isso: a visão íntima de uma América de personagens desenraizadas, por vezes protagonistas de uma violência destruidora.
Através de uma mise en scène cuja eficácia não é estranha a uma sóbria elegância, Schrader tem verdadeiras personagens que, mesmo quando tendem para a caricatura, contêm sempre uma perturbante dimensão trágica. Também por isso as composições dos protagonistas — Nicolas Cage, Willem Dafoe e Christopher Matthew Cook — são invulgarmente enérgicas e plenas de subtilezas. Sem esquecer que quem interpreta o cérebro deste golpe é um estreante como actor: Paul Schrader!

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