Timothée Chalamet e Armie Hammer — dois grandes actores num filme realmente fora de série


joao lopes
18 Jan 2018 22:39

Quem viu "Eu Sou o Amor" (2009) e "Mergulho Profundo" (2015), não poderá deixar de reconhecer que o seu autor, Luca Gudagnino é, de facto, um criador de uma sensibilidade profundamente italiana. Será um reconhecimento quase redundante — afinal, Guadagnino nasceu em Palermo, na Sicília, em 1971. O certo é que encontramos no seu cinema uma aliança entre os corpos, as paisagens e a música que não podemos deixar de ligar a um frondoso património que tem como referência emblemática o nome de Luchino Visconti (1906-1976).

O seu novo e belíssimo filme, "Chama-me pelo Teu Nome", situa-se numa dessas zonas convulsivas, tecida de ideias e emoções, em que dois seres humanos se descobrem ligados por algo que, por assim dizer, transcende a própria conjuntura social e histórica em que se movimentam. Esta é, assim, a história de Oliver, americano, investigador de arqueologia, a passar uma temporada em Itália (na década de 1980), e Elio, o jovem filho do professor com quem Oliver trabalha — entre Oliver e Elio vai nascer um amor que transfigura a sua (e a nossa) própria percepção do mundo.
De alguma maneira, está tudo resumido na subtileza do título: pedir que "tu" me chames pelo "teu" nome é, afinal, reconhecer que o movimento amoroso, de uma só vez mágico e misterioso, é aquilo que se revela capaz de transformar radicalmente cada um dos protagonistas, a ponto de deslocar os limites da sua própria identidade.
Do delicado tratamento da luz italiana à metódica utilização das canções, incluindo as que Sufjan Stevens compôs para o filme [teledisco: "Mystery of Love"], "Chama-me pelo Teu Nome" é um objecto de cinema que, por assim dizer, aceita ser contaminado pela singularidades da relação entre Elio e Oliver, como se o amor fosse o cenário absoluto de qualquer relação humana.

No papel de Elio, Timothée Chalament tem sido destacado (e premiado) pela sua invulgar interpretação. Seja como for, importa não menorizar a contribuição de Armie Hammer, na personagem de Oliver, magnífico actor que estará ainda a pagar o preço de ter entrado num magnífico blockbuster ("O Mascarilha", 2013) que não foi um grande sucesso comercial… Seja como for, importa sublinhar que a excelência da mise en scène de Guadagnino passa também, e passa decisivamente, pelas suas qualidades como director de actores.

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