joao lopes
18 Fev 2018 15:33
O novo filme de Clint Eastwood, "15:17 Destino Paris", envolve uma aposta figurativa e dramática que, justificadamente, tem sido sublinhada em todas as notícias. Tratava-se, recorde-se, de abordar o modo como três soldados americanos em férias na Europa impediram um acto terrorista num comboio que ligava Amsterdão a Paris — pois bem, para interpretar essas três fundamentais personagens, Eastwood convidou… os próprios soldados.
Aconteceu a 21 de Agosto de 2015. Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos, na altura com 22-23 de idade, rumaram a Paris no Thalys, comboio rápido com partida de Amsterdão às 15h 17m. Quando um homem fortemente armado se preparava para disparar sobre os passageiros, os três reagiram rapidamente, conseguindo impedir o consumar das suas intenções.
Em boa verdade, trata-se de um efeito realista que o filme não sublinha enquanto tal. Não há, aqui, redundâncias formalistas. Aquilo que Eastwood procura é, de uma só vez, menos imediato e mais subtil. De modo sugestivo, "15:17 Destino Paris" poderá definir-se como a ilustração de uma conjuntura com o seu quê de hitchcockiano — como dizia o mestre do suspense, estamos perante figuras ordinárias numa situação extraordinária.
Daí, sem dúvida, a depuração clássica do filme, privilegiando os contrastes de uma acção que vai desde o tédio dos três soldados em vários momentos da sua deambulação turística até à violência que irrompe nos breves minutos de confronto com o terrorista — sem esquecer, claro, as fundamentais sequências em flashback dedicadas à infância de Stone, Sadler e Skarlatos.
Mais uma vez, Eastwood afirma-se, assim, como um voz singular, singularmente individualista, no interior da grande máquina de Hollywood. Rejeitando as ilusões, e também as rotinas, geradas pela ideologia dos "efeitos especiais", ele mantém-se atento à complexidade das personagens e à irredutibilidade dos gestos humanos. Pouco protegido no seu lançamento (o filme não foi previamente mostrado à comunicação social) "15:17 Destino Paris" é cinema em estado puro, alheio a modas temáticas ou clichés espectaculares.