joao lopes
22 Mar 2018 23:46

Felizmente, estamos a atravessar um período de alguma visibilidade da produção cinematográfica brasileira no mercado português. Assim, depois da estreia de "Como Nossos Pais", um belo melodrama familiar de Laís Bodanzky, chega agora às salas portuguesas o documentário "No Intenso Agora", de João Moreira Salles — sem esquecer que, ao mesmo tempo, o lançamento do derradeiro filme de Eduardo Coutinho, "Últimas Conversas", é acompanhado da exibição de dois outros títulos de sua autoria: "Edifício Master" e "Jogo de Cena".

O exemplo de "No Intenso Agora" é tanto mais interessante quanto se apresenta como um peculiar exercício documental. O seu objecto central é o conjunto de atribulações sociais e discussões políticas vividas ao longo da década de 1960, com especial incidência nos acontecimentos de Maio 68 em França; o certo é que, em paralelo, o realizador dá a ver imagens dos filmes amadores de sua mãe feitos na mesma época durante uma viagem à China.



Escusado será dizer que Salles reconhece nas imagens registadas pela mãe as marcas de um fascínio, mais ou menos ambíguo, pelos sinais do maoísmo na China. Aquilo que o interessa é o contraponto de tais imagens com os dramas vividos nas ruas de Paris, na certeza de que, pelo menos, alguma mitologia política circulava entre um cenário e outro.

O resultado é uma crónica histórica que tem tanto de investigação jornalística como de narrativa familiar. E é essa, sem dúvida, a proeza fundamental de "No Intenso Agora": fazer-nos perceber que a relação com a história envolve sempre os valores de alguma subjetividade. Ou ainda: das convulsões de Maio chega-nos uma herança vital sobre ads dinâmicas da acção política, os valores sociais e, em última instância, o próprio conceito de indivíduo.

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