Cate Blanchett em


joao lopes
6 Abr 2018 0:08

De que falamos quando falamos de uma instalação concebida para um museu? Pois bem, podemos estar a falar de um… filme. Assim acontece com "Manifesto", uma instalação concretizada em 2015 pelo artista alemão Julian Rosefeldt que agora chega às salas portuguesas como objecto cinematográfico. Demorou algum tempo, mas ainda bem: estamos perante um trabalho capaz de nos ajudar a (re)pensar as formas de relação dos conceitos de "exposição" e "projecção".

E tanto mais quanto esta é uma singularíssima proeza de interpretação. Descobrimos, assim, um conjunto de personagens que declamam textos provenientes dos mais variados manifestos, com um lugar importante na história da política, da arte, dos usos e costumes. São 13 personagens — um sem abrigo, uma professora, uma apresentadora de televisão, etc. —, todas elas interpretadas por uma única actriz: Cate Blanchett — uma verdadeira prova de fogo criativa, só ao alcance de alguém com tanta e tão subtil versatilidade.



Não se trata, entenda-se, de recuperar tais manifestos de forma linear, muito menos subserviente. Rosefeldt desloca os textos para os mais insólitos cenários, emprestando ressonâncias inesperadas, ora graves, ora irónicas, às palavras do Manifesto Comunista de Marx e Engels, à celebração vital do surrealismo por André Breton ou aos princípios práticos do cineasta dinamarquês Lars von Trier e do Dogma dinamarquês…

São variações sobre as mais diversas formas de utopia, numa aventura que começa no tempo histórico para que os manifestos remetem, desembocando no nosso presente, através dos poderes de transfiguração que Blanchett exibe. Como se prova, pode haver canais de comunicação entre o museu e a sala escura, a mostrar que, hoje em dia, as linguagens audiovisuais coexistem através de mecanismos tão ambíguos quanto festivos.

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