Masatoshi Nagase e Ayame Misake — um filme sobre o mundo e as suas imagens


joao lopes
16 Jun 2018 0:37

No mais recente filme da japonesa Naomi Kawase, "Esplendor",  Misako (Ayame Misake) é uma jovem que trabalha para invisuais, escrevendo versões de filmes; na sua actividade, conhece Masaya (Masatoshi Nagase), um fotógrafo que está a perder a visão. Do seu encontro, vai nascer uma relação de mútua revelação e aprendizagem — cada um enfrenta de modo novo os dramas da sua história individual…

Não se pode dizer que seja um ponto de partida banal. Para Kawase, trata-se, afinal, de lidar com o mundo visível para, com a cumplicidade do espectador, aceder ao que, realmente, permanece invisível. Em boa verdade, reencontramos uma postura criativa em tudo cúmplice de alguns dos seus títulos anteriores, como "A Quietude da Água" (2014) e "Uma Pastelaria em Tóquio" (2015) — o objectivo é a revelação dos laços enigmáticos que podem ligar dois seres humanos.



É pena que "Esplendor" seja também um filme que, em vez de privilegiar as próprias personagens, se vá entregando a divagações mais ou menos formalistas (nomeadamente na integração dos elementos paisagísticos) que acabam por diminuir o seu impacto — como se Kawase, depois de uma atitude de prospecção, se contentasse agora com a redução do seu universo de fábula a um determinismo mais ou menos esquemático.

Uma coisa é certa: na actual difusão internacional da produção cinematográfica do Japão, Kawase ocupa um lugar de destaque, em grande parte decorrente de sucessivas presenças no Festival de Cannes. "Esplendor" foi mesmo o título que, em 2017, a levou pela oitava vez ao certame da Côte d’Azur — a estreia ocorreu em 1997, com "Moe No Susaku", que lhe valeu a Câmara de Ouro (melhor primeira obra).

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