23 Jun 2018 0:47
Há já algum tempo que não víamos um filme capaz de colocar as suas personagens numa cidade, fazendo-nos sentir que essa cidade, precisamente, longe de ser um pano de fundo "decorativo", existe como entidade material que se enlaça e entrelaça com o destino dos seres humanos — num certo sentido, a cidade revela-se como a primeira personagem. "Columbus", realizado pelo sul-coreano Kogonada, é um filme assim.
Esta é a história de um homem (John Cho) que viaja da Coreia do Sul até Columbus, no estado americano do Indiana, para visitar o pai, um conhecido arquitecto, recentemente internado num hospital devido a graves problemas de saúde. A sua convivência com algumas pessoas, em particular uma jovem (Haley Lu Richardson) fascinada pela arquitectura, vai levá-lo a um subtil processo de interrogação da sua identidade e, muito em particular, do diálogo que (não) tem mantido com o pai…
Dir-se-ia que este é um filme sobre aquilo que somos através daquilo que vemos. Num duplo sentido: primeiro, porque as personagens se vão confrontando com os edifícios (belíssimos!) de Columbus, desse modo questionando o seu próprio lugar geográfico e afectivo; depois, porque em tal processo é o próprio espectador que é conduzido a reavaliar o cinema como uma arte do visível, sempre ligado ao imponderável do invisível.
Kogonada é, sobretudo, conhecido através dos muitos filmes, ou melhor, videos que tem realizado sobre os mais diversos cineastas, de Yasujiro Ozu a David Fincher, passando por Ingmar Bergman, Stanley Kubrick ou Jean-Luc Godard. Agora, podemos descobri-lo como um notável ficcionista, seduzido pelos enigmas dos comportamentos humanos — "Columbus" é, muito simplesmente, uma das grandes revelações deste ano cinematográfico.