Luis Silva e Alfredo Castro: os actores são um trunfo forte de


joao lopes
21 Jul 2018 0:29

Eis um filme, no mínimo, difícil de classificar… Interessante, por isso mesmo. Afinal de contas, "À Distância" provém de uma cinematografia (e um país) que conhecemos mal. Ou ainda: como situar "À Distância" no contexto da produção da Venezuela (neste caso, em aliança com o México)? Lembremos apenas que o filme correspondeu a um momento de especial visibilidade das suas origens, já que arrebatou o Leão de Ouro em Veneza, no ano de 2015.

As dificuldades de classificação duplicam quando deparamos com o ponto de partida do argumento. Esta é, de facto, a história de Armando (Alfredo Castro), um homem obviamente sem problemas de dinheiro que atrai jovens pobres das ruas de Caracas a sua casa. O seu objectivo parece ser a satisfação de um "voyeurismo" que mantém essa distância a que o título se refere. Habitualmente, os jovens não resistem à "tarefa" para que são pagos — mas não acontece assim com Elder (Luis Silva), o que, paradoxalmente, poderá ser o início de uma relação.



O maior trunfo do filme estará nos seus actores. O chileno Alfredo Castro, nosso conhecido de vários filmes de Pablo Larraín (p. ex.: "Tony Manero", 2008), surge como um misto de transparência e mistério; por sua vez, Luis Silva é exemplar na composição de uma raiva profunda que nos remete sempre para a crueza de uma existência que o argumentista/realizador Lorenzo Vigas filma com metódico realismo cenográfico.

É pena que Vigas vá cedendo à facilidade de um maneirismo em que a complexidade psicológica das personagens dá lugar a uma lógica mais ou menos "policial". Sentimos, enfim, que as peripécias superficiais da história se substituem à densidade emocional com que o filme arranca (na sua brevidade, a cena final corre mesmo o risco de se esgotar no pitoresco do "fait divers"). Em resumo, uma oportunidade curiosa, longe de ser empolgante, para conhecermos um pouco mais da produção da América latina.

+ críticas