joao lopes
27 Jul 2018 0:47
Anton Tchekhov no cinema? Sim, sem dúvida — a lista de adaptações é de várias centenas de títulos… Lembramo-nos, por exemplo, de "Olhos Negros" (1987), de Nikita Mikhalkov, curiosamente baseado, não numa peça, mas em vários contos. E lembramo-nos também da elaborada adaptação de "A Gaivota" (1968), de Sidney Lumet, além do mais com um elenco que incluía Vanessa Redgrave, James Mason e Simone Signoret.
Pois bem, agora é o americano Michael Mayer que surge a assinar uma nova adaptação cinematográfica de "A Gaivota", explorando os fascinante e enigmáticos meandros da visita de uma actriz ao irmão, na sua propriedade rural, desencadeando todo um enredado processo de inesperadas e perturbantes revelações.
Estreado em palco em 1896, o texto de Tchekhov continua a existir como um labirinto de palavras e silêncios em que a dimensão humana se celebra em toda a sua infinita complexidade. Mayer parece ter tido receio de tal complexidade, retirando-nos o prazer das durações e da lenta sedimentação temporal — o seu filme acaba por ser mais "acelerado" que subtil.
Enfim, saudemos alguns nomes do elenco, com inevitável destaque para Annette Bening (no papel de Irina Arkadina), sem esquecer Saoirse Ronan, Billy Howle e Brian Dennehy. E saudemos também o facto de o Verão cinematográfico não estar completamente afogado nas lógicas promocionais de "blockbusters" — afinal de contas, ainda podemos admirar alguns brilhantes actores e deparar com um grande texto.