John Travolta no papel de John Gotti — à maneira de um telefilme


joao lopes
27 Jul 2018 23:46

A história do gangster italo-americano John Gotti (1940-2002) envolve circuitos criminosos, rivalidades entre famílias, golpes violentos e mortes brutais… Dito de outro modo: Gotti é uma personagem com características exemplares para uma abordagem cinematográfica que remeta para toda uma tradição dos filmes sobre o crime organizado de que "O Padrinho" (1972), de Francis Ford Coppola, será o modelo mais brilhante — e também, historicamente, mais incontornável.

Por alguma razão, entre nós, o filme "Gotti" recebeu o subtítulo "Um verdadeiro padrinho americano". Infelizmente, os rótulos não bastam. E apesar do evidente empenho com que John Travolta assume a personagem de Gotti, este é um caso exemplar, pela negativa, de um projecto que tinha tudo para ser um vibrante objecto de cinema e, mais do que isso, uma parábola moral sobre o Bem e o Mal.


Em boa verdade, "Gotti" quase não aconteceu… O projecto arrastou-se ao longo de vários anos, mais precisamente desde 2010, quando o filme esteve para ser dirigido por Barry Levinson, com Al Pacino no papel central. Mais tarde, seria Travolta, precisamente, a envolver-se na pré-produção, reconhecendo na personagem de Gotti um claro trunfo dramático.

Infelizmente, a realização de Kevin Connolly (por certo condicionado pelas atribulações anteriores) pouco mais consegue do que montar um esquema narrativo mais ou menos atabalhoado, num ziguezague temporal que, além do mais, limita o próprio investimento de Travolta — o seu envelhecimento físico tem mesmo qualquer coisa de postiço. Pensamos em Coppola? Sim, sem dúvida. Mas os resultados nunca ultrapassam as retóricas de um telefilme "biográfico", tão simplista quanto involuntariamente anedótico.

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