Parker Sevak e Maggie Gyllenhaal — que acontece entre quem ensina e quem aprende?


joao lopes
4 Jan 2019 11:01

O mínimo que se pode dizer de "A Educadora de Infância" é que se trata de um objecto difícil de explicar — até mesmo de descrever. Baseado num filme homónimo, de origem israelita (produção de 2014, realizada por Nadav Lapid, que não conheço), esta história de uma professora que descobre num dos seus alunos um inusitado talento poético desafia o entendimento tradicional de duas entidades obviamente relacionadas: educação e infância.

Que acontece, então? Pois bem, uma professora de Staten Island depara um dia com o comportamento surreal (?) de um dos seus alunos: Jimmy tem cinco anos, deambula pela sala do jardim de infância e… recita poemas! De onde vêm as palavras? Serão frases memorizadas? Não, nada disso: Jimmy tem mesmo poesia dentro de si e partilha-a com os outros.

Como explicar Jimmy? Em boa verdade, não é essa a questão central do filme escrito e dirigido por Sara Colangelo. Inteligentemente, a narrativa desloca-se para o universo da professora e para a sua, literalmente, missão impossível. A saber: de tanto querer proteger Jimmy, a professora "retira-o" do seu próprio quotidiano, procurando subtrai-lo a tudo aquilo que considera agressivo ou hipócrita no mundo dos adultos.

Maggie Gyllenhaal é notável no papel da professora, como notável é o pequeno Parker Sevak a interpretar o misto de génio e vulnerabilidade que define Jimmy. Este é, de facto, um filme sobre presenças que, no limite, desafiam as certezas com que, não poucas vezes, rotulamos os nossos comportamentos — enfim, um filme que transfere para o espectador as suas próprias perplexidades, levando-nos a admirar um pouco melhor a arte de ser humano.

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