Jia Zhang-ke filmado por Walter Salles — pelas ruas de Fenyang


joao lopes
20 Abr 2019 0:38

A experiência criativa em cinema surge muitas vezes descrita como o resultado de um comportamento mais ou menos anedótico e pitoresco, combinado com a utilização de recursos mais ou menos espectaculares. Observe-se a frequente visão mediática dos filmes de "super-heróis" — dir-se-ia que não há trabalho, apenas gente a contar anedotas e milhões de dólares a serem gastos em efeitos especiais…

O mínimo que se pode dizer de um documentário como "Jia Zhang-ke, Um Homem de Fenyang" é que recusa, ponto por ponto, as facilidades daquele tipo de abordagem. Trata-se, assim, de dar conta do universo do cineasta chinês Jia Zhang-ke (nascido em 1970, em Fenyang, na província de Shanxi), retratando-o, antes do mais, como o título sugere, através das componentes afectivas e culturais das suas origens.




Curiosamente, estamos perante o encontro de dois criadores — Jia Zhang-ke e o cineasta brasileiro Walter Salles — com trajectos existenciais e cinematográficos bem diferentes. Enquanto realizador de "Jian Zhang-ke, Um Homem de Fenyang", Salles procura, antes do mais, iluminar as ligações daquele que dirigiu títulos como "Plataforma" (2000), "24 City" (2008) ou "China – Um Toque de Pecado" (2013) com a história do seu país, em especial das convulsões que marcaram o seu século XX.
Daí, sem dúvida, o tom de deambulação intimista de muitas situações. Revisitando os cenários da infância e adolescência de Jia Zhang-ke, o filme vai-se organizando como um objecto híbrido, a meio caminho entre a introspecção e a reportagem, o subjectivo e o objectivo — ou como um homem de cinema observa outro homem de cinema.

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