joao lopes
8 Jun 2019 0:44
Dir-se-ia que podemos definir "Foxtrot" como um drama de guerra. E não há dúvida que é nesse registo que começa o filme assinado por Samuel Maoz: um casal recebe a notícia de que o seu filho, um soldado do exército israelita, morreu em combate… A partir daí, somos confrontados com um ziguezague de acontecimentos e perplexidades que nos leva a perguntar que laços unem aquelas personagens, como funciona a própria ideia de comunidade que os une.
Vale a pena recordar que a primeira longa-metragem de Maoz, "Líbano" (2009), já lidava com questões em tudo e por tudo semelhantes. Aí, tratava-se de evocar a experiência dos soldados de um tanque durante os conflitos no Líbano, em 1982. Tal como em "Foxtrot", ia-se instalando a mesma interrogação visceral, de uma só vez física e simbólica: a que lugar pertencem as próprias acções que vamos seguindo?
Nada disto, entenda-se, é abstracto. E não será necessário sublinhar um facto rudimentar, mas essencial: "Foxtrot" coloca em cena um universo instável, todo ele pontuado pelas tensões entre israelitas e palestinianos, a ponto de o concreto dos comportamentos envolver a dificuldade de formulação política dos próprios problemas em jogo.
A tragédia existencial que liga pai, mãe e filho não nasce de outra coisa: que está a acontecer através das mortes, dos "nossos" e dos "outros"? Ou ainda: que projecto de paz pode nascer desta conjuntura bélica?
Criticado pelo ministério da Cultura de Israel pela visão pouco ortodoxa do papel do exército, Maoz não recusou reconhecer que o seu filme está longe de ser um retrato "oficial" do que quer que seja, lembrando, porém, que nele se inscreve também um profundo amor pelo seu país — não haveria maneira mais justa de sublinhar a energia humana, e também a obstinação humanista, de "Foxtrot".