18 Jan 2020 20:09
O título do filme "PJ Harvey: A Dog Called Money" provém de uma canção de PJ Harvey gravada durante as sessões do álbum "The Hope Six Demolition Project"(2016). E faz sentido que assim seja. Afinal de contas, acompanhamos a cantora inglesa, não apenas durante essas sessões, mas também ao longo das viagens que fez com o fotógrafo Seamnus Murphy, também realizador do filme, recolhendo temas e inspirações para o seu trabalho.
Dir-se-ia um tradicional "making of", expondo a evolução de um labor específico que, em última instância, se cristaliza no alinhamento final do álbum. O certo é que estamos longe da lógica corrente, predominantemente promocional, desse modelo documental. Em boa verdade, este é um filme sobre as relações da música com as imagens do mundo à nossa volta.
Na prática, nem sequer se pode considerar que Murphy esteja a "acompanhar" PJ Harvey na sua demanda musical. Isto porque a motivação primeira é o próprio trabalho do fotógrafo, visitando várias regiões de Afeganistão e Kosovo, além da zona de Washington em que está a ser aplicado um plano de construção de casas, procurando recuperar bairros afectados por fortes índices de criminalidade (o título do álbum provém, aliás, da designação oficial desse plano: HOPE VI).
As sessões de gravação do álbum acontecem num cenário muito especial: uma espécie de estúdio, fechado mas com janelas, aberto a visitantes que podem observar o labor dos músicos sem que estes vejam tão singular plateia. Pode dizer-se que "PJ Harvey: A Dog Called Money" é, afinal, um filme que nos ajuda a compreender e sentir as canções para além da sua pertença a um objecto a que chamamos "álbum" — este é um filme, de uma só vez subtil e sedutor, sobre a cumplicidade orgânica da música com as pessoas e as paisagens do mundo à sua/nossa volta…