14 Fev 2020 23:49
Assim vai o cinema de aventuras… e desventuras. Numa paisagem espectacular marcada pelas rotinas dos super-heróis, a indústria vai tentando alguns "desvios". Agora, é a vez de Sonic, o ouriço azul dotado de velocidade super-sónica, vindo do mundo dos videojogos (com derivações na BD e animação). Dir-se-ia que, em alguns contextos, pesou a necessidade de sublinhar a "diferença" do projecto — "Sonic the Hedgehog" surge como "Sonic: o Filme".
Dir-se-ia que a dificuldade é mesmo essa. A saber: o que existe aqui que não seja uma mera recriação pitoresca da figurinha azul? Ou ainda: que ideias especificamente cinematográficas existem para emprestar consistência ao pequeno Sonic? A resposta, porventura cruel, mas sobretudo desencantada, é que só encontramos aqui uma entidade genuinamente fílmica: Jim Carrey, no papel do "mau da fita", o Dr. Robotnik.
Interpretando o humano que acolhe Sonic depois da sua traumática viagem inter-planetária, James Mardsen é um exemplo dramático de incapacidade de criar uma genuína personagem em diálogo com o ouriço. O que, entenda-se, torna a presença de Carrey ainda mais estranha, porque mais solitária — ele é, afinal, um talentoso herdeiro de uma tradição que vai de Charles Chaplin a Jerry Lewis… e o filme não passa da aplicação de um conceito de marketing.
O mais desconcertante em tudo isto é o modo como algum cinema americano continua a gerar objectos como este que, no simplismo das suas opções, nem sequer conseguem estabelecer um qualquer laço com as mais nobres referências do "entertainment" de Hollywood. Decididamente, este é um cinema em que o poder mais forte está, não do lado dos artistas, mas dos gestores de marcas.