joao lopes
5 Nov 2020 23:01
Eis o que se pode chamar uma mini-franchise… Não uma colecção de aventuras de um qualquer super-herói cada vez mais saturado de efeitos e defeitos especiais, antes uma série de viagens em torno da gastronomia. Dito de outro modo: "Viagem à Grécia" é mais uma variante de um modelo de "documentário/comédia" que começou com "A Viagem" (2010), em cenários britânicos, continuou com "A Viagem a Itália" (2014) e "A Viagem a Espanha" (2017), desembocando agora nos cenários da "Odisseia"…
Os protagonistas, o inglês Steve Coogan e o galês Rob Brydon, percorrem, assim, os restaurantes do país, deleitam-se com refeições de visível sofisticação, visitam alguns locais de exemplar fama turística, enfim, vão-se entregando a um jogo de suave reflexão e muito sarcasmo sobre as atribulações das suas existências… Tudo de novo filmado pelo realizador Michael Winterbottom que, obviamente, com eles mantém uma relação de alegre cumplicidade.
Convenhamos que o modelo já perdeu qualquer efeito de surpresa. Aliás, em boa verdade, dir-se-ia que realizador e actores já nem se preocupam em satisfazer as regras iniciais. De tal modo que a análise das iguarias que vão saboreando passou para um plano secundário, quase só restando a truculência de diálogos em que predominam as imitações de outros actores (Sean Connery, Marlon Brando, etc., etc.).
Por um lado, Coogan e Brydon confirmam as qualidades de verdadeiros entertainers e algumas das cenas em que dialogam possuem a energia própria de situações em que a teatralidade da encenação parece integrar uma grande e sugestiva margem de improviso. Por outro lado, tudo isso vai gerando uma colecção de situações mais ou menos autónomas de um "show" televisivo, inevitavelmente enfraquecendo os resultados globais. Ainda assim, registe-se a insólita viragem dramática do final, porventura dando conta de um outro filme que ficou por fazer…