joao lopes
25 Jul 2021 0:01

Assim vai o cinema independente americano. Aliás, não generalizemos: assim vai um certo cinema independente dos EUA, enraizado na concepção de cada um dos seus projectos como uma aventura singular, por certo irrepetível, quer na sua dimensão técnica, quer enquanto aventura humana. Dito de outro modo: Alexander Rockwell apostou em rodar o seu "Sweet Thing – Infância à Deriva" a preto e branco, com uma câmara de 16mm, porventura assumindo-se como herdeiro das admiráveis convulsões dos anos 60/70 (Cassavetes?).

É caso para dizer: porque não? Resta saber se basta adoptar um estilo de reportagem acelerada, a "correr" com a câmara atrás dos actores, para que o retrato emocional de uma família em crise seja algo mais do que um exercício de ostentação técnica. Afinal, o que é que realmente conta: a história que se quer contar, ou a exibição formal(ista) dos meios utilizados para a contar?

 


E, no entanto, há que dizer que este é um objecto nascido de um projecto genuíno, genuinamente familiar. Para retratar os dois irmãos, Billie e Nico, que vivem em ziguezague entre o pai e a mãe, Rockwell entregou os respectivos papéis aos seus filhos, respectivamente Lana e Nico Rockwell; sem esquecer que é a sua mulher, Karyn Parsons, que interpreta a personagem da mãe (com Will Patton, a repetir os tiques de sempre, na figura do pai).
De qualquer modo, "Sweet Thing" não é exactamente o estudo de uma família decomposta, antes uma crónica amarga e doce sobre a diferença entre o desencanto do dia a dia e a ânsia de um mundo alternativo, dir-se-ia um mundo de fábula.
Há alguma vibração emocional nesse labirinto, sobretudo através da presença de Lana Rockwell, mas é pena que o filme confunda a "agitação" das imagens com a possível intensidade dramática das situações… Para mais, neste caso, com o efeito retórico de algumas imagens a cores servirem para sugerir a vida "sonhada" dos protagonistas…

+ críticas