Tom Schilling e Saskia Rosendahl — memórias alemãs de 1930


joao lopes
23 Out 2021 0:41

É verdade: importa não esquecermos a Alemanha como peça vital da história do cinema europeu — passado e contemporâneo. E tanto mais quanto não é possível omitir uma verdade rudimentar que, infelizmente, muitos agentes do mercado cinematográfico ignoram e não querem enfrentar. Que é como quem diz: algumas das maiores preciosidades do momento surgem "escondidas" em pouquíssimas salas, sem o mínimo de promoção…

Acontece agora com o filme alemão "Fabian", de Dominik Graf, adaptando o romance homónimo de Erich Kästner, centrado num jovem que, em Berlim, por volta de 1930, trabalha em publicidade e se vê envolvido numa teia de personagens, ameaças e medos que prenunciam a chegada do nazismo — o resultado é um filme de incrível vibração emocional, uma exemplar evocação histórica e também um estudo subtil sobre a condição humana.

Fabian é um candidato a escritor que vive e sobrevive nas rotinas do seu trabalho no sector de publicidade de uma marca de tabaco. Quando conhece Cornelia, jovem aspirante a actriz cinematográfica, o amor que nasce parece poder resistir a todas as convulsões do momento — vivem-se os derradeiros anos da República de Weimar e os nazis vão-se afirmando, de modo brutal e inquietante, no quotidiano da cidade.

Evitando esquematismos "simbólicos", a realização de Graf consegue a proeza de de nos devolver a complexidade emocional de uma época perturbante, sem nunca simplificar as relações entre Fabian e Cornelia. E tanto mais quanto são interpretados, respectivamente, pelos brilhantes Tom Schilling e Saskia Rosendahl — vimo-los em "Nunca Deixes de Olhar" (2018), de Florian Henckel von Donnersmarck; ela protagonizou "Lore" (2012), de Cate Shortland, prodigioso filme sobre os tempos finais da Segunda Guerra Mundial vistos a partir da experiência dos flhos de um oficial nazi.

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