Nova Iorque, anos 90: Margaret Qualley em boa companhia


joao lopes
28 Out 2021 21:07

Eis um pequeno bálsamo cinéfilo… A saber: um filme sem super-heróis (nem heróis, já agora), sem cedências ao marketing anti-cinéfilo, sem estar enredado em nenhuma saga purificadora de costumes, gloriosamente ignorado por "influencers" e afins… Um filme, afinal, construído a partir de um valor primitivo que a nossa sociedade, preguiçosa e tecnológica, tende a reduzir a (mais uma) triste "especialização". É verdade: "O Meu Ano com Salinger" é um filme que nasce do amor dos livros, pelos livros, pela literatura.

Que acontece, então? O realizador canadiano Philippe Falardeau inspira-se no livro de Joanna Rakoff ("My Salinger Year") sobre a sua entrada, justamente, no mundo profissional dos livros. A saber: em meados da década de 90, aos 23 anos, Joanna conseguiu emprego numa lendária agência literária de Nova Iorque (Harold Ober Associates), sem saber que um dos seus representados era nada mais nada menos que o muito secreto e "invisível" J. D. Salinger (1919-2010), autor do lendário "The Catcher in the Rye" (tradução portuguesa: "À Espera do Centeio").
Claro que cedo se instala um peculiar "suspense", por assim dizer literário e afectivo: tendo em conta que Margaret, a directora da agência, exige que Joanna trate Salinger como se pudesse "infectá-lo" (e apenas via telefone, entenda-se…), será que a aprendiz alguma vez vai conhecer o mítico autor?

"O Meu Ano com Salinger" é a crónica delicada e subtil, por vezes comovente, dessa convivência "à distância", tanto mais envolvente quanto Falardeau evita qualquer discurso pomposo sobre Salinger, os livros ou literatura — são acidentes e incidentes, coisas banais e coisas passionais, de personagens realmente vivas e tocantes. Sem esquecer o impecável trabalho de composição de Margaret Qualley e Sigourney Weaver, respectivamente como Joanna e Margaret.

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