22 Fev 2015 0:41
Escusado será dizer que ninguém possui uma chave para prever com absoluto rigor quem vai ganhar os Oscars. Aliás, com tantas cerimónias a anteceder o espectáculo da Academia de Hollywood — e, sobretudo, com o estreitamento dos nomeados, repetindo-se de umas cerimónias para outras —, o "suspense" é menor e o efeito de surpresa quase impossível.
É verdade que, por exemplo, poucos acreditam (eu inscrevo-me na maioria — não acredito) que Julianne Moore possa não ganhar a estatueta dourada pelo seu trabalho em "O Meu Nome É Alice" — ela pode, aliás, simbolizar exemplarmente a vitalidade das categorias de interpretação. Há, em todo o caso, derrotados antecipados. E um deles, por mais estranho que isso possa parecer, chama-se Clint Eastwood.
Enfim, não dramatizemos, desde logo porque "Sniper Americano" é um caso invulgar de sucesso, a ponto de, nas salas americanas, conseguir números (acima de 300 milhões de dólares) mais típicos de um vulgar blockbuster protagonizado por um qualquer "super-herói" mais ou menos voador… O certo é que, apesar de o filme obter seis nomeações, incluindo a de melhor filme, Eastwood não está nomeado para melhor realizador.
O que se discute não é apenas a estranheza de um filme tão pessoal ser sujeito a esta clivagem nas nomeações, mas sobretudo o facto de a Academia, decididamente, não encontrar solução para gerir o seu recente critério (iniciado em 2010) segundo o qual já há não apenas cinco nomeados na categoria principal, mas sim um número que pode ir até dez…
Resultado? Uma arbitrariedade instalada, com dez títulos em 2010 e 2011, nove em 2012, 2013 e 2014, e este ano oito. Não se percebe, de facto, que a opção dos dez tenha sido feita em nome de uma maior diversidade de modelos de produção, tanto mais que, este ano, ficaram de fora filmes como "Foxcatcher", "Em Parte Incerta" e, last but not least, "Interstellar"!
A cerimónia não será melhor nem pior por causa disso — e esperemos que Neil Patrick Harris tenha uma performance à altura do desafio. Os filmes, premiados e não premiados, também não perderão qualidades por causa de tal contabilidade. O certo é que, mesmo antes da sua realização, estes Oscars deixam a sensação de que a Academia tem todo o interesse em estabilizar as suas regras e, acima de tudo, encontrar opções (de escolha ou voto) que a demarquem dos muitos outros eventos da temporada de prémios.