20 Jan 2016 11:22
O realizador italiano Ettore Scola, em cuja obra ficaram refletidas as dores de crescimento, divisões de classe e idealismos frustrados do século XX na Itália, morreu aos 84 anos de idade, disse a família.
Scola morreu durante a noite de terça-feira num hospital de Roma, após ter estado vários dias em coma.
Nascido numa pequena cidade no sul da Itália, dirigiu alguns dos maiores atores mundiais, incluindo Sophia Loren, Marcello Mastroianni, Fanny Ardant e Jack Lemmon.
Uma das suas longas-metragens mais aclamadas – e nomeada para o Oscar de melhor filme estrangeiro – foi o "Um Dia Inesquecível" ("Una giornata particolare", 1977), a história de um encontro casual de apenas algumas horas entre a personagem de Mastroianni (nomeado para o Oscars de melhor ator), um homossexual prestes a ser deportado pelos fascistas, e Loren na pele de uma dona de casa sentimental e reprimida, casada com um seguidor do núcleo duro de Benito Mussolini.
"Era um incrível e perspicaz mestre na compreensão da Itália, da sua sociedade e das mudanças nela verificadas", afirmou o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, num tributo.
Scola, que começou a trabalhar como argumentista em 1953 e dirigiu o seu primeiro grande filme, "Se permettete parliamo di donne", em 1964. Era discípulo de Vittorio De Sica e o seu filme de 1974 "Tão amigos que nós éramos" (C’eravamo tanto amati") foi uma homenagem ao diretor neo-realista, que morreu naquele ano. Conta a história de três idealistas que lutam como resistentes durante a ocupação nazi e segue-os ao longo de décadas com greves, agitação laboral e terrorismo como pano de fundo à medida que a Itália se foi transformando de um calmo paíse agrícola numa potência industrial mundial.
Scola também usou a rapida mutação de Itália como pano de fundo para "A Família" ("La famiglia", 1987) – também nomeado para o Oscar de melhor filme estrangeiro – que tem lugar num apartamento em Roma e narra a vida de uma família de classe média alta entre 1906 e 1986.
Embora nunca tenha ganho um Oscar, Scola triunfou em diversos festivais de cinema europeus, como Cannes e Berlim, e "Um Dia Especial" ganhou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
Scola retirou-se em 2011, dizendo que estava velho demais para lidar com a burocracia envolvida na produção de filmes em Itália.
"O mundo do cinema já não é como costumava ser: fácil e feliz. Existem requisitos para a produção e distribuição com os quais já não me consigo identificar", disse ao jornal Il Tempo. No entanto, dois anos depois, voltou ao trabalho para fazer "Que estranho Chamar-se Federico" (Che strano chiamarsi Federico), um documentário sobre o seu amigo e mentor Federico Fellini, que morreu em 1993.